quinta-feira, 10 de janeiro de 2008

Um zero!


Confrangedora a exibição do Sporting ontem em Setúbal, amorfa e apática a atitude da equipa (e do próprio Paulo Bento), desinspirados, desinteressados e, a espaços, até descontrolados os jogadores do Sporting. Foi isso o Sporting ontem. Em suma, um zero!

Existem alguns aspectos relativos ao jogo de ontem que gostaria de realçar.

PAULO BENTO

Paulo Bento teria tido ontem uma excelente oportunidade para aliviar alguma da carga negativa que ultimamente repousa sobre os ombros daqueles jogadores. Em vez disso, contribuiu, como a sua acção directa, para o acentuar dessa mesma carga. Eu explico.

A Taça da Liga é uma competição menor. Não tão menor quanto querem fazer dela os senhores do costume que prefeririam certamente que fosse dado mais destaque (como muitas vezes é) à prova do triplo salto do meeting de atletismo de Vila Nova da Rabona do que a esta competição mas, ainda assim, é uma competição menor, tal como o é também, por exemplo, a Supertaça.

Na actual fase desta competição, este era o jogo que menos interessava. Não só porque era aquele em que a equipa do Sporting teria de defrontar o adversário menos acessível desta fase da competição, mas também porque dos três jogos que decidirão o apuramento para a final da Taça da Liga, este era o único que o Sporting teria de disputar fora de casa e, portanto, aquele que reuniria, à partida menos hipóteses de ganhar (embora não deixasse por isso de ser o favorito).

Além disso, duas vitórias (que se antecipam relativamente fáceis) nos próximos dois jogos serão, à partida, suficientes para garantir a presença do Sporting na final da Taça da Liga, no dia 23 de Março, pelo que uma derrota no jogo de ontem no Bonfim não comprometeria em nada as legítimas aspirações do Sporting a vencer a primeira edição desta competição.

Paulo Bento sabia disto e sabia também que o actual momento da equipa está longe de ser o melhor (como o demonstram os resultados recentes) e que os últimos acontecimentos (nomeadamente, a demissão de Carlos Freitas) só poderiam contribuir para o acréscimo da intranquilidade da equipa, o que, à partida, tornaria ainda mais provável a ocorrência de novo desaire.

Embora soubesse disto, Paulo Bento decidiu enjeitar a excelente oportunidade que tinha para proteger os seus principais jogadores, remetendo-os para o banco de suplentes ou mesmo para fora da convocatória e colocando em campo os jogadores menos utilizados. Se este jogo era para perder (ou, dito de outra forma, podia ser perdido sem daí viesse grande mal ao Mundo), porque não dar rodagem a quem dela tanto precisa, protegendo simultaneamente de um eventual desaire jogadores cujo nível exibicional tanto tem sido afectado pela intranquilidade anímica que a equipa tem vindo a experimentar?

Este terá sido, quanto a mim, o primeiro erro de palmatória de Paulo Bento. Deixou que uma derrota que não belisca em nada as aspirações do Sporting afectasse negativamente o ânimo dos nossos melhores jogadores.

O segundo erro de Paulo Bento é recorrente e, quanto a mim, inexplicável: vendo-se a perder à passagem da meia-hora de jogo, muda tudo: jogadores, esquema táctico e o mais que houver para mudar. Isto, na minha opinião de leigo, não pode ser bom por um conjunto de razões que passarei a explicar.

O Sporting (ainda) é uma grande equipa que, à partida, entra em qualquer jogo para ganhar, com os jogadores dispostos em campo e a equipa organizada de forma a atingir esse objectivo. Se assim é, como é que tudo pode mudar ao cabo de meia-hora?

Se mudar tudo numa fase tão prematura do jogo traduz a ideia de Paulo Bento de, numa medida desesperada, “pôr a carne toda no assador”, então revela da parte do treinador uma total falta de confiança na capacidade de os seus jogadores porem em prática os ideias e conceitos que lhes terão sido passados ao longo de uma semana de trabalho. Porque eu acredito, embora possa estar errado, que aquilo que eles mais trabalham durante a semana é o plano principal e não o plano de contingência. Como é óbvio, essa falta de confiança passa “lá para dentro”, em nada contribuindo para o acréscimo de confiança dos jogadores numa reviravolta.

Mas, na óptica de Paulo Bento, essa mudança poderá corresponder não a uma medida de desespero mas sim ao reconhecimento de um erro, ou seja, Paulo Bento chega à conclusão (ao fim de apenas 30 minutos) que, afinal, preparou mal o jogo em questão, o modelo táctico, a disposição dos jogadores em campo. Se assim for, já são erros a mais. Pelo pouco que me vai sendo dado a conhecer de Paulo Bento, inclinar-me-ia mais para a primeira hipótese.

Esta atitude de Paulo Bento comporta ainda sérios riscos para a confiança dos jogadores que vão sendo sacrificados nessas substituições. Esses jogadores dividem-se normalmente em dois grupos: aqueles que não costumam ser titulares e a quem é dada uma oportunidade esporádica (veja-se, por exemplo, o caso de Pereirinha ontem) ou habituais titulares que são reconhecidamente os elos mais fracos daquela equipa (por exemplo, Ronny). Qualquer que seja o caso, a dita substituição não pode ter efeitos lá muito positivos na confiança desse jogador.

CARLOS FREITAS

Não jogou, é um facto. Mas, na minha opinião, também não jogaram (ou jogaram muito pouco) alguns dos mais influentes jogadores da equipa que, ou não foram contratados por ele, na medida em que vieram da escolas de formação (João Moutinho e Miguel Veloso, por exemplo) ou foram contratados por ele, já deram no passado provas do seu valor mas estão a atravessar momentos de forma muito maus (refiro-me concretamente a Romagnoli e Liedson). Estes que foram talvez os principais impulsionadores do Sporting na última metade da época passada.

Neste sentido, e independentemente do valor de cada um, parecer-me-ia complicado que os restantes jogadores trazidos para o Sporting por Carlos Freitas, no decurso do último defeso, pudessem explanar todo o seu valor (se é que alguns deles o têm), tal como me parecerá muito complicado integrar qualquer novo reforço, por bom que seja, nesta manta de retalhos em que está transformada a equipa do Sporting.

Não obstante o acima referido, até são fruto das malfadadas contratações de Carlos Freitas na presente época os dois jogadores do Sporting que se exibiram a melhor nível no jogo de ontem: Stojkovic e Vukcevic.

STOJKOVIC

Paulo Bento fica aqui com um problema bicudo para resolver: a escolha do titular das redes leoninas. Rui Patrício vinha ganhando o seu espaço, mas Stojkovic tirou ontem da manga uma exibição de encher o olho que contribuiu de forma decisiva para evitar males maiores.

Continuo sem perceber que estratégia é esta que determina que um destes jovens guarda-redes, aos quais tanto potencial é reconhecido, fique tapado pelo outro, sem oportunidade de jogar e, dessa forma, ganhar rotina numa posição na qual essa mesma rotina é tão importante.

Penso que só ganharíamos em que um deles pudesse rodar noutro clube. A verificar-se esse caso, penso que teria de ser Rui Patrício o sacrificado.

PUROVIC

Uma última palavra para Purovic. Lesionou-se aos 38 minutos de jogo e, de acordo com diagnóstico do médico Virgílio Teixeira, "está incapacitado para jogar". Aqui ficam os desejos de rápidas melhoras e que possa regressar rapidamente da condição de "incapacitado para jogar" por lesão para a condição de "incapacitado para jogar" por natureza.

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