segunda-feira, 28 de janeiro de 2008

Noite feliz


Escrevi, a propósito do Boavista x Sporting (como poderia ter escrito a propósito de tantos outros) que há noites assim. No caso particular do Sporting, talvez haja mesmo demasiadas noites assim, como aquelas.

Mas ontem não foi uma dessas noites. Ontem, a noite esteve estrelada para os lados de Alvalade. Num bom jogo de futebol, o Sporting conseguiu, muito cedo, concretizar as poucas oportunidades que teve e capitalizar na vantagem obtida, contagiando as bancadas do estádio de uma tranquilidade e um ambiente de festa como há algum tempo não se via por aquelas bandas.

A superioridade da equipa do FC Porto foi, a espaços, incontestável, tal como a mais-valia que representam, quer para aquela equipa, quer para o próprio campeonato, a presença de jogadores como Lisandro Lopez ou Lucho Gonzalez. Não é por acaso que lidera o campeonato com a vantagem confortável de que (ainda) dispõe.

Quanto à equipa do Sporting, apresentou-se mais personalizada, disciplinada e batalhadora do que tem sido costume, como se impunha. Mas não é só contra FC Porto, Manchester Utd. ou AS Roma que tal se impõe. É bom mas não chega. Dá para fazer boas figuras na Liga dos Campeões e para ir ganhando umas Taças, mas não chega manifestamente para ganhar campeonatos.

Alguns destaques na noite de ontem:

BRUNO PEREIRINHA


Quando todos esperavam que do confronto entre Bruno Pereirinha e Ricardo Quaresma pudesse sair a resposta para o desfecho do encontro… saiu mesmo! Mas, contra todas as expectativas, o vencedor claro desse confronto individual foi o jovem médio adaptado a lateral-direito. Uma das melhores exibições da noite, senão mesmo a melhor!

Esteve quase inatacável no capítulo defensivo, quer na cobertura do seu flanco quer ainda nas dobras aos seus companheiros de sector, sempre que a isso foi chamado. Arranjou ainda tempo e fôlego para subir no terreno, tendo tido intervenção directa no segundo golo do Sporting.
Comentei antes do jogo com um adepto do FC Porto (que, não fosse a vergonha que me tolhe, até confessaria tratar-se do meu próprio irmão) que a ausência de Abel poderia ser determinante, dada a sua influência na equipa e o facto de se tratar, na minha opinião, de um dos dois melhores laterais direitos a actuar em Portugal neste momento (sendo o outro José Bosingwa).

A minha opinião logo mereceu um comentário jocoso por parte do meu interlocutor, por entender que seria muito lisonjeiro para Abel ser incluído no mesmo saco de Bosingwa. Mal acabou o jogo, e depois de assistir à exibição de Pereirinha, fiz questão de emendar a mão, dando razão ao tal senhor: Abel não é, de facto, um dos dois melhores laterais direitos a actuar entre nós; é, isso sim, um dos três melhores!

VUKCEVIC / IZMAILOV


Juntamente com Pereirinha, serão os inevitáveis candidatos a melhores jogadores em campo com a camisola do Sporting. Estiveram ambos nos dois golos que selaram a vitória sobre o actual e mais que provável futuro campeão nacional.

Izmailov evidenciou-se em bem melhor plano do que vem fazendo nos últimos jogos, como que impelido por uma qualquer vocação para sobressair quando tem por adversário o FC Porto. Chegou a ser determinante na forma como ajudou Ronny a “secar” Bosingwa, habitualmente um dos elementos mais influentes do plantel portista.

Quanto a Vukcevic, à falta de Derlei, é mesmo o parceiro certo para Liedson na frente de ataque, quer pela diferença de valia que o separa dos restantes concorrentes ao lugar, quer pelo estilo de jogo que se adapta bem ao futebol do avançado brasileiro. Tem sido determinante (talvez mesmo o melhor jogador do Sporting) de há umas semanas a esta parte e ontem voltou a sê-lo.

Começam a faltar palavras para descrever a sua influência na equipa. Dá gosto vê-lo colocar em campo toda a sua raça, seja na forma como, juntamente com Liedson, é o primeiro a defender, seja pela forma como não desiste de um lance, evitando a queda fácil após contacto com oponentes directos, seja ainda pela forma como festeja os golos nos braços dos adeptos, factos que contribuem para que seja um dos jogadores em relação ao qual o público sente mais empatia actualmente.


Não me lembro, nos últimos anos, de um jogador que não fosse Liedson que, nesta altura do campeonato, liderasse a lista dos melhores marcadores leoninos.

Por uma questão de justiça, uma nota apenas para lembrar os mais distraídos que, se a memória não me falha, a contratação de ambos os jogadores tem a chancela do desditoso Carlos Freitas.

RUI PATRÍCIO

Uma das melhores exibições de um guarda-redes adversário a que tive oportunidade de assistir este ano em Alvalade foi a de Van der Sar, por ocasião do jogo que opôs o Sporting ao Manchester United, a contar para a fase de grupos da Liga dos Campeões.

Tanto quanto as três ou quatro defesas impossíveis que fez, impressionou-me a segurança, a simplicidade com que transformava lances perigosos em lances aparentemente fáceis, a facilidade com que encaixava à primeira potentes disparos adversários.

Salvas as devidas diferenças, ontem vi isso em Rui Patrício. Haverá (há de certeza) outros aspectos em que levará desvantagem em relação ao seu concorrente pelo lugar, mas neste aspecto revela muito maior segurança.

DEFESA

Nem só de coisas boas foi feito o jogo de ontem e só por manifesta falta de pontaria dos adversários e alguma sorte, o Sporting saiu ontem de Alvalade com as suas redes invioladas.

Sempre que há um livre lateral ou um pontapé de canto contra o Sporting, é um verdadeiro “Deus nos acuda”! A quantidade de vezes que os jogadores do FC Porto fugiram à marcação e apareceram isolados em frente a Rui Patrício não se coaduna com as ambições de uma equipa que se diz (ou dizia) candidata a tudo e mais umas botas. E nem o “patrão” Anderson Polga está isento de culpas nesta matéria.

JESUALDO FERREIRA

Tenho uma embirração especial com este senhor. E, na minha opinião, ele faz por merecer que eu acalente este sentimento que nutro por ele. É tão pouco digno na derrota (como foi o caso ontem) como na vitória (como pudemos ver no final da época passada, após a conquista do campeonato para as suas cores).

Também em matéria de competência técnica deixa muito a desejar. Nada justifica que o treinador da equipa que é líder incontestada do campeonato, dispondo à partida para este jogo de um avanço de 14 pontos face ao seu adversário directo, altere por completo o esquema táctico, com os resultados que todos pudemos ver. A não ser, talvez, um temor reverencial em relação ao Sporting… facto que eu saúdo!

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