quinta-feira, 13 de dezembro de 2007

O Sporting não merecia...

Dói-me a alma que este seja o tema do meu primeiro post, mas as circunstâncias assim o obrigam.

Confesso que, embora nunca tenha pertencido a nenhuma claque, reconheço-lhes inteiramente o mérito de servirem o Sporting ao acompanharem a equipa um pouco por todo o lado, especialmente numa altura em que, reconheçamos, o número de apoiantes e de espectadores nos estádios definha.

Concordo que desempenham um papel fundamental de representação do clube (principalmente fora de portas), dando voz a muitos de nós que, pelos mais diversos motivos, não podem ou não querem fazê-lo (porque também há – e cada vez mais, diria eu – os que se enquadram neste último caso).

Acho, por outro lado, que este papel só poderá ser válido enquanto a substância (o amor que terão pelo clube) não for adulterada pela forma (comportamentos desrespeitosos e pouco abonatórios do respeito que a instituição que todos amamos – o Sporting – devia merecer).

Mas vamos por partes...

Tudo isto começou, como bem se lembram, com a acção de protesto convocada para o dia do jogo com o Louletano.

Os motivos apontados para o protesto eram vários, sendo que há um que gostaria de destacar: o facto de os jogadores não se terem deslocado junto dos adeptos para agradecer o apoio prestado, nos jogos de Roma e Manchester. Tive oportunidade de constatar isso mesmo in loco e, nesse sentido, sentir na pele essa indiferença e partilhar dessa mágoa.

Concordo em absoluto com o motivo e considero totalmente legítima a revolta sentida.

Na minha opinião, isso é a face mais visível de um divórcio (que já não é de hoje) entre os jogadores que representam o clube e o próprio clube, a sua mística e, mais concretamente, os seus adeptos.

Acho por isso legítimo que se pretenda encontrar formas para alterar esse aspecto em particular. Acho até legítimo que, independentemente dos (restantes) motivos apontados, a Juve Leo opte por realizar um protesto por ocasião do jogo com o Louletano, embora não concorde com a forma do mesmo.

Se o problema identificado se prende com o distanciamento entre jogadores e massa adepta, penso que a forma de protesto encontrada (não comparecer ou atrasar a comparência no estádio) não será a melhor forma de o mitigar, antes pelo contrário, porque só tende a agudizar esse distanciamento. O que não impede que estejam no seu direito de se manifestar da forma como o fizeram, ordeira, civilizada e respeitosamente.

A entrada da claque (ou de uma parte dos seus elementos) no estádio, com cerca de 1 hora de jogo decorrido, foi coroada com uma vaia por parte dos (poucos) fiéis adeptos que resolveram marcar presença nas bancadas nesse dia.

Penso que é legítimo. Penso que até este momento, quer uns (membros da claque), quer outros (restantes adeptos), independentemente dos motivos que lhes assistiam, agiram tendo em consideração aquilo que, no entender de cada uma das partes, acharam ser o melhor, tendo como única e exclusiva preocupação os superiores interesses do clube.

A reacção da Juve Leo (ou de parte dos seus membros que se associaram a este protesto) à vaia com que foi recebida começou por ser adequada, na minha opinião. Pareceu-me, numa primeira fase, que, numa atitude magnânime e digna, iriam dar por encerrado o protesto, talvez na crença de que o mesmo teria surtido os efeitos desejados, dedicando-se àquilo que de melhor sabem fazer: apoiar o clube e a equipa de todos nós e galvanizar o restante estádio para esse mesmo apoio.

Foi isso que aconteceu numa primeira fase, mas foi sol de pouca dura.

Imediatamente a seguir, o caldo entornou. Como que acicatados pela vaia com que foram recebidos no estádio, começaram a disparar em todos os sentidos, na maior parte das vezes de forma desrespeitosa. Para mim, caso haja um facto que, por si só, tenha desencadeado e justifique esta espiral de desrespeito mútuo entre a referida claque e os restantes adeptos e os jogadores da equipa, terá sido este.

Neste momento, na minha opinião, a claque já não estava a agir em prol dos superiores interesses do clube, mas sim na defesa do próprio orgulho, que tinha sido ferido. E, nesse momento, para mim, perderam toda a legitimidade.

Daí para a frente, assistimos a atitudes irreflectidas dos vários intervenientes: desde a própria claque, passando pelo dirigente que terá supostamente dado a instrução para que alguns jogadores se dirigissem junto das restantes claques com o intuito de oferecerem as respectivas camisolas, até aos próprios jogadores que o fizeram e restantes adeptos que aplaudiram esse gesto.

Confesso que, naquele momento, me juntei a essa manifestação de apreço pelo gesto dos referidos jogadores mas, mais a frio, não posso deixar de pensar que faltou uma grande dose de bom senso a todos os envolvidos: (i) à claque por ter enveredado pelo caminho do insulto, que não a dignifica a ela nem ao Sporting, (ii) ao tal dirigente que, em vez de tentar apaziguar os ânimos, como lhe competia, terá supostamente resolvido lançar mais uma acha para a fogueira, (iii) aos jogadores que alinharam neste afrontamento à Juve Leo (sendo que estamos a falar dos mesmos jogadores que se revelam incapazes de, noutras ocasiões, e por iniciativa própria, tomar semelhantes atitudes como prova do seu reconhecimento pelo apoio prestado) e, finalmente, (iv) aos restantes adeptos, entre os quais me incluo, que premiaram esse gesto com o seu aplauso, contribuindo ainda mais para o extremar de posições.

Mas as coisas não haveriam de ficar por aqui. Um novo comunicado foi emitido, no qual a dita claque prometia, num gesto simbólico, não mais entoar qualquer cântico alusivo a um só jogador (um direito que lhe assiste e que não diminui em nada o seu contributo para o espectáculo e para o apoio que devem dar à equipa), garantindo, por outro lado, numa atitude perfeitamente revanchista, que devolveria qualquer camisola que fosse atirada por um jogador para a sua bancada.

O comportamento da Juve Leo, ao longo do jogo contra o Dínamo de Kiev, foi exemplar. Os seus elementos não pouparam esforços no apoio à equipa, tal como já nos têm habituado. Mas o pior ainda estava para vir…

Num gesto revelador de grande coragem, carácter e dignidade, digno de um verdadeiro capitão do Sporting Clube de Portugal, João Moutinho dirigiu-se no final do jogo à bancada sul, para oferecer a sua camisola (junto à qual também seguia a braçadeira de capitão), num gesto pleno de simbolismo que teria como fim último o enterrar do machado de guerra.

E foi aí que se deu o facto isolado mais baixo, vil, ignóbil, vergonhoso, indigno, abjecto e desprezível que alguma vez me foi dado a ver por parte de um adepto do Sporting: o arremessar da camisola do capitão de equipa de volta para o relvado.

Não culpo apenas o autor do arremesso. Eu estava lá. Eu vi. Passaram alguns segundos entre o momento em que alguém terá agarrado na camisola atirada por João Moutinho e o momento em que a mesma foi arremessada de volta para o relvado. No entretanto, uma multidão de gente o rodeou e o convenceu, vá-se lá saber com que argumentos, a praticar o acto ignóbil que nos foi dado a ver a todos os que nos encontrávamos no estádio ou em frente à televisão, em Portugal, no resto da Europa ou no resto do Mundo.

Duvido que a mesma pessoa tivesse praticado o mesmo acto se as circunstâncias não fossem as mesmas. Não quero com isto desculpabilizar este acto reles, mas tão somente chamar a atenção para o facto de que a responsabilidade última do mesmo não recai única e exclusivamente nos ombros desse indivíduo e, como tal, seria na minha opinião de alguma forma injusto que fizessem dele o bode expiatório.

Por um motivo simples: na minha opinião, aquele adepto tomou a atitude que tomou porque lhe faltou a coragem para, de forma isolada, afrontar aquela horda que o rodeou. Precisamente a mesma coragem que tem faltado aos responsáveis do Sporting Clube de Portugal para afrontar esses mesmos senhores, ainda que rodeados de todo o seu peso institucional.

Espero que seja chegada a hora de alguém ter bom senso no meio disto tudo. E coragem. Para assumir erros, mas também para tomar as medidas que eventualmente se imponham. São as duas únicas coisas que se pedem neste momento conturbado, em prol do Sporting Clube de Portugal.

1 comentário:

Verde CDV disse...

Muitos Parabéns e bem vindo à blogomania.
Não sei se vou inaugurar os comentários , mas se for ficarei muito satisfeito.
Como sempre uma prosa cinco estrelas , não concordarei totalmente consigo , mas no essêncial ; aliás como quase sempre ;estamos bem sintonizados.
Todos podemos protestar com ruido , com silêncio ; mas nunca com actos de violência e muito menos com actos abjectos.
Veremos como vai o clube punir estes actos e esperemos que não se entre por uma espiral que vá provocar cisões graves no seio leonino.

FORÇA SPORTING , SPORTING SEMPRE.

Verde CDV